Com o aquecimento global, as incidências de calor extremo e alta umidade estão aumentando, gerando preocupações para a saúde humana. O estresse por calor, que está sendo monitorado por cientistas, é uma das principais causas de mortes relacionadas ao clima nos EUA. Um exemplo é a onda de calor recorde no noroeste do Pacífico, que resultou em centenas de mortes no verão passado.
O estresse térmico e as consequências para a saúde em um mundo em aquecimento
Quanto mais o clima da Terra esquenta, ondas de calor e umidade extremas estão se tornando mais frequentes e severas, com sérias consequências para a saúde humana. Cientistas estão rastreando o estresse térmico, que é uma das principais causas de mortes relacionadas ao clima nos EUA. Um exemplo recente é a onda de calor recorde que atingiu o noroeste do Pacífico no último verão, resultando em centenas de mortes.
Nos últimos 40 anos, os níveis altíssimos de calor mais que dobraram e isso pode continuar, de acordo com Colin Raymond do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. Ele é o autor principal de um estudo de 2020 sobre calor e umidade acima da média. Os meteorologistas usam ferramentas como o índice de calor, que combina temperatura do ar e umidade relativa para indicar como o calor é sentido pelo corpo, refletindo o desconforto em condições quentes e úmidas.
O índice de calor, embora amplamente usado, requer calibração e não segue um padrão, variando entre diferentes países. Por esse motivo, cientistas estão cada vez mais utilizando a temperatura de bulbo úmido como uma medida alternativa de estresse por calor em estudos climáticos globais, por ser uma métrica mais objetiva.
A temperatura de bulbo úmido mede a capacidade do corpo de se resfriar pelo suor em condições quentes e úmidas. É uma medida crítica para avaliar o estresse térmico, especialmente quando a umidade alta impede a evaporação eficaz do suor. A temperatura de bulbo úmido mais alta que os humanos podem suportar por longos períodos é de cerca de 35°C. Essa medida, embora relacionada ao índice de calor, usa uma técnica diferente, originalmente envolvendo um termômetro envolto em pano molhado, e hoje é calculada por instrumentos eletrônicos em estações meteorológicas
Desde 2005, já ultrapassaram o limite crítico de 35°C (95°F) em algumas regiões subtropicais, como Paquistão e Golfo Pérsico, por curtos períodos. Esses eventos estão se tornando mais frequentes, e temperaturas de bulbo úmido ligeiramente mais baixas, entre 32°C e 35°C, triplicaram nos últimos 40 anos, indicando um aumento significativo do estresse térmico em várias partes do mundo.
Quanto mais quente o clima, maior o estresse térmico em nossos corpos, exigindo mais suor para resfriar. No entanto, em condições úmidas, o ar retém menos umidade adicional, fazendo com que a evaporação do suor seja mais lenta, dificultando o resfriamento do corpo. Isso tem importantes implicações para a saúde, especialmente em climas cada vez mais quentes e úmidos.
Quando você sai de um banho quente, a evaporação da água resfria seu corpo. Porém, em ambientes quentes e úmidos, essa sensação de frescor é mais difícil de alcançar. A temperatura de bulbo úmido mede essa dificuldade de resfriamento. Se a temperatura de bulbo úmido se aproxima da temperatura interna do corpo, o resfriamento torna-se ineficaz, causando desidratação e estresse nos órgãos, podendo ser fatal. Uma temperatura de bulbo úmido acima de 35°C impede qualquer forma de resfriamento eficiente do corpo.
Em climas secos, temperaturas extremas podem ser suportáveis com sombra e água. No entanto, em regiões úmidas, temperaturas de bulbo úmido entre 34 e 36°C tornam a sobrevivência difícil, mesmo com medidas adaptativas. Grupos vulneráveis incluem idosos, trabalhadores ao ar livre e pessoas sem acesso a ar condicionado, que é a melhor defesa contra altas temperaturas de bulbo úmido. Ventiladores ajudam, mas são menos eficazes que o ar condicionado na remoção de umidade do ar.
Raymond destacou que pessoas podem morrer de estresse por calor em temperaturas de bulbo úmido muito mais baixas que 35°C (95°F). Durante a onda de calor no noroeste do Pacífico em junho de 2021, a temperatura de bulbo úmido foi de cerca de 25°C (77°F), demonstrando que temperaturas significativamente mais baixas ainda podem ser mortais em condições extremas.
Como os satélites podem ajudar
Muitos locais com temperaturas extremas de bulbo úmido estão em países em desenvolvimento nos subtrópicos, onde há poucas estações meteorológicas confiáveis. Isso dificulta a compreensão completa desses eventos, mas dados de satélite da NASA ajudam a identificar esses pontos críticos. Instrumentos como o AIRS e o ECOSTRESS fornecem dados valiosos para estudar o estresse térmico, permitindo o desenvolvimento de modelos de calor regional. Futuros projetos da NASA, como a missão SBG, fornecerão dados de resolução ainda maior para melhorar a compreensão desses processos.
Novas ferramentas estão sendo desenvolvidas para calcular uma métrica mais avançada de estresse térmico, chamada Temperatura de Globo de Bulbo Úmido (WBGT). Essa métrica considera temperatura, umidade, velocidade do vento, ângulo do sol e cobertura de nuvens. A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) está criando um protótipo para previsões aprimoradas de estresse térmico nos EUA. No entanto, a temperatura de bulbo úmido ainda é a medida padrão para pesquisas climáticas globais a longo prazo.
Pontos quentes do futuro
É difícil prever quando as temperaturas globais de bulbo úmido ultrapassarão regularmente 35°C (95°F), pois esse processo é gradual e varia entre regiões. Modelos climáticos indicam que áreas como o sul da Ásia, Golfo Pérsico e Mar Vermelho podem exceder esse limite até 2050, enquanto o leste da China, sudeste da Ásia e Brasil podem alcançá-lo até 2070.
Nos Estados Unidos, estados do Centro-Oeste como Arkansas, Missouri e Iowa podem atingir esses níveis críticos dentro de 50 anos.
Fonte:
[…] Quente demais: como as mudanças climáticas podem tornar alguns lugares quentes demais para se vive… […]